Uma legenda na obra Ecce Homo indica que
esta demorou apenas duas horas a ser elaborada. A pintura do século XIX
que foi restaurada espontaneamente por uma senhora de cerca de 80 anos,
em Espanha, que, sem querer, acabou por destrui-la. Os novos trabalhos
de restauro já estão agendados para a próxima segunda-feira, mas deverá
ser “muito difícil” recuperar a obra.
Para pintar o Ecce Homo, Elías García Martínez
só terá precisado de duas horas, muito menos tempo do que a equipa de
restauro deverá necessitar para recuperar a obra que decora o Santuário
da Misericórdia, em Borja, Saragoça.
De acordo com o conselheiro
da Cultura do município, Juan María de Ojeda, a pintura estava acompanha
de uma legenda que dizia algo como. “Este é o resultado de duas horas
de trabalho à Virgem da Misericórdia”, disse à agência EFE.
A
pintura tem cerca de 50 centímetros de altura e 40 de largura e, embora
não seja muito valiosa, tem um grande valor sentimental, tendo sido
doada à cidade de Borja pelo autor que costumava lá passar as férias de
Verão.
Segundo o diário espanhol
El País, na próxima
segunda-feira, duas especialistas em restauro deverão começar a
quantificar os danos provocados para encontrar uma solução com a
colaboração da senhora que os causou. Segundo declarou Ojeda à agência
Efe, a pintura estava “muito deteriorada” e deverá ser “muito difícil”
recuperá-la, pois trata-se de um óleo aplicado numa parede sem esta ter
sido previamente tratada.
Nos últimos dias, a história do
restauro espontâneo tem despertado a atenção da imprensa internacional e
o Ecce Homo tornou-se célebre nas redes sociais, onde se fazem piadas
sobre o assunto.
No Facebook existe, entre outros, um grupo chamado
"Senhoras que restauram Cristos de Borja"
que apresenta várias fotografias satirizando a situação e que, em menos
de 24 horas, contava já com 2798 “gosto”. No Twitter são, igualmente,
bastantes as mensagens relacionadas com o episódio.
O incidente
foi detectado no dia 7 de Agosto pelo Centro de Estudos Borjanos (CEB), e
divulgado inicialmente pelo jornal espanhol
Heraldo de Aragón.
O
CEB, confrontado nesta quinta-feira com uma situação insólita num meio
pequeno, tem estado atarefado a responder a todas as solicitações. “As
chamadas efectuadas ao nosso Centro, ao longo do dia, têm sido
constantes e as publicações neste blogue eram mais de 40.000 no momento
em que estas linhas se escrevem, algo insólito para um meio de âmbito
muito limitado”,
lê-se no blogue do CEB.
Quanto
à autora espontânea do restauro, o Conselheiro da Cultura do município
preferiu preservar a sua identidade, pois ela está muito afectada com o
sucedido e, apesar do desfecho, agiu com boa intenção. “Não queremos
submetê-la a um juízo público, pelo que preferimos afastá-la dos meios
de comunicação”, afirmou Juan María de Ojeda.
No entanto, Cecilia
Gímenez, assim se chama a autora do restauro, prestou declarações à
estação de televisão espanhola TVE, dizendo que o padre da igreja sabia
que ela estava a "arranjar" a obra há já algum tempo. "Toda a gente que
entrava [na igreja] me via a pintar. Nunca o fiz às escondidas",
garantiu a senhora à TVE.
A irmã de Cecilia Gímenez, Esperanza Gímenez Zueco, disse ao jornal
El País
que Cecilia já tinha restaurado a obra mais vezes, uma delas há quatro
anos, mas sempre com a permissão do padre. "Fê-lo com boa fé. Só quis
dar-lhe um pouco de cor, já que a igreja está em muito más condições,
com vazamentos e salitres, e o Cristo estava a deteriorar-se".
Esperanza
sublinhou ainda que a obra "não tem muito valor, [sendo] simplesmente
uma cara de um Cristo", pelo que considerava exagerada toda a atenção em
torno do episódio.
Teresa García, neta do artista do século XIX,
em declarações à TVE, mostrou-se surpreendida com esta intervenção de
Cecilia Gímenez, embora soubesse que a senhora já estava há algum tempo a
retocar a túnica da figura representada na figura. "O problema é que
agora passou para a cabeça e, claro, destruiu o quadro", lamentou.